1-Quais são os principais erros que os vestibulandos cometem ao estabelecer metas para o vestibular?
A preparação para o vestibular é uma tarefa árdua, tanto cognitivamente, já que o processo de aprendizagem é longo e gradual, quanto emocionalmente, pois lidar com os erros e dificuldades requer resiliência e proatividade.
São tantas as demandas relacionadas ao preparo para o vestibular que é muito comum os estudantes se perderem: como faço revisões, com qual frequência? Quanto tempo preciso estudar uma matéria que tenho muita dificuldade? Quando começo a fazer provas antigas? Me distraio com facilidade como melhorar isso? Dentre tantas outras dúvidas que surgem ao longo desta preparação.
Os erros mais comuns no estudo são:
- Não ter um planejamento que considere as prioridades das disciplinas precisam ser mais estudadas. É necessário elencar quais serão as prioridades de estudo daquela semana previamente.
- Não ter limite de tempo de estudo para cada disciplina estudada. Querer resolver muitos exercícios, até “sentir que aprendeu” não é uma estratégia interessante frente ao volume de conteúdos que precisam ser estudados para a prova de vestibular.
- Não trabalhar os erros e pontos fracos com consistência e regularidade. É importante que o estudante busque sanar seus erros e depois de um tempo confira se a aprendizagem foi efetiva ou não. Para isso, um material para controlar quais foram os erros e as dificuldades é essencial, pois servirá de “mapa” para o estudante retornar ao longo da preparação.
- Estudar mais os conteúdos e matérias que já sabem. É comum os estudantes iniciarem os estudos com aquilo que tem mais facilidade (“vou me garantir em tal matéria!”) e deixar para depois os conteúdos que têm dificuldade, daí, não raro, o depois acaba virando nunca! Coloque suas dificuldades como uma prioridade em sua rotina de estudo, não precisa ser a primeira coisa a ser estudada, mas que seja a segunda!
- Não aceitar os limites que o contexto lhe impõe. Esse ponto é o mais delicado, pois envolve aspectos emocionais e como cada uma vivência as frustrações. É duro aceitar que não dá para estudar tudo o que gostaria, a quantidade de horas que julga necessário, ter que dividir o tempo de estudos com outras atividades que não gostaria de fazer. Enfim, a tarefa de amadurecimento e de aceitação daquilo que está fora do controle é bastante dolorosa. Dois caminhos para isso: falar sobre com um especialista e procurar alternativas para o que está no seu controle.
2-Como o estudante pode definir metas que sejam ao mesmo tempo desafiadoras e atingíveis?
É importante que o estudante tenha/ faça uma avaliação inicial de qual é seu momento acadêmico, ou seja, saber com o máximo de detalhamento qual é o nível de conhecimento que tem em cada uma das disciplinas que serão estudadas para a prova do vestibular. Ao compreender com clareza o nível de complexidade que é capaz de lidar no momento, torna-se possível estabelecer metas realistas, considerando os próximos passos a serem alcançados
As metas relacionadas ao estudo precisam ser graduais como a de um esporte: os treinos precisam ter uma regularidade e uma intensidade que aumenta, diminui ou se mantém de acordo com a condição física e mental de cada um em cada momento.
3-Qual a importância de ter metas curtas, intermediárias e longas para o sucesso no vestibular?
Para começar lembre-se: a melhor comparação é de você de hoje com o você do passado! Por isso as metas precisam ser estabelecidas considerando qual é o seu nível acadêmico hoje.
Muito importante. A depender de qual curso pretende-se ingressar na graduação e de qual é o momento acadêmico de cada estudante é necessário preparações diferentes. São diferentes frentes de estudo que o estudante precisa desenvolver, como questões discursivas, objetivas, saber fazer diferentes modalidades de redação, ler e interpretar diferentes obras literárias, além de retomar todos os conteúdos aprendidos (quando o cenário é favorável) no Ensino Médio e conseguir aplicá-los no formato da prova do vestibular.
É muito comum estudantes que têm bons desempenhos na escola levarem um susto quando fazem simulados e provas de vestibular e percebem o quanto ainda não sabem. Neste sentido, criar metas de curta, média e longa duração ajuda a fazer o planejamento de estudo. Entretanto, um aspecto importante é não ficar muito fixado nessas metas a ponto de não poder rever ou mudá-las de acordo com os resultados obtidos.
Além disso, outro ponto de atenção é a valorização de uma antecipação do início da preparação dos vestibulares. Cada vez tem sido mais comum estudantes do 3º ano do Médio e às vezes até do 2º estarem em cursos preparatórios. É importante refletir: isso é uma meta de curta, média ou longa duração que trará efeitos positivos? Como é possível avaliar esse tipo de escolha? Minhas condições materiais (família, escola, por exemplo) se apresentam de forma estável no momento? e minhas condições emocionais, como estão?
Sucesso no vestibular não pode ser restringido a ideia de entrar o mais rápido possível na graduação é importante considerar o amadurecimento da escolha e as condições emocionais que o jovem se encontra para iniciar essa nova etapa da sua vida.
4-Como o estudante pode montar um cronograma de estudos eficiente, levando em consideração sua rotina diária e seus pontos fortes e fracos?
O cronograma de estudos precisa levar em conta não só os pontos fortes e fracos, como também qual curso irá prestar e qual o tempo disponível na sua rotina para o estudo. Compreendendo esses fatores é possível construir um planejamento adequado. Algumas premissas gerais:
– Dividir o tempo de estudo em dois momentos: assistir as aulas e estudar ativamente;
– É interessante estudar pelo menos em 2 momentos diferentes da semana os pontos fracos, lembre-se: a aprendizagem vem com a repetição dos conteúdos estudados!
– Estabelecer as prioridades de estudo a depender de qual curso irá prestar e qual o modelo da prova (questões objetivas e dissertativas);
– Os pontos fortes podem ter menos tempo de estudo por semana, mas não podem ser negligenciados;
– Incluir em sua rotina de estudo simulações da prova do vestibular.
5-Qual a importância dos períodos de descanso durante a preparação para o vestibular?
O descanso é importante por diferentes fatores: é no momento de descanso que ocorre a consolidação dos conteúdos estudados, é um fator que possibilita a disciplina para uma rotina intensa de estudo. Três pontos de atenção:
- No momento de pausa entre estudos de fato “pausar” e não consumir mais informações. Se você descansa olhando o celular seu cérebro irá consumir e processar novas informações que podem trazer interferência no que foi estudado. Outras opções para o descanso podem ser: ficar de olhos fechados, dar uma volta no quarteirão, olhar o horizonte e até mesmo fazer alguma atividade manual que não exige cognitivamente (ex: dobrar roupas, lavar louça).
- Tenha uma rotina de sono com regularidade e horas suficientes para o descanso. A quantidade de horas de sono restauradoras para um novo dia de atividades varia de pessoa para pessoa.
- Inclua em seu planejamento de estudos momentos de descanso e lazer. É importante definir os dias e o tempo de descanso e lazer previamente, pois são esses momentos que trarão o equilíbrio necessário para uma rotina extensa de atividade.
6-Como organizar momentos de revisão no cronograma de estudos sem comprometer o tempo de aprendizagem?
A revisão é uma das estratégias de estudo que envolve a aprendizagem, mas também existem outras: ler, grifar, assistir aula, anotar, resolver questões e fazer prática de lembrar, por exemplo. Revisão significa rever um conteúdo que já foi estudado, revisitando-os. É comum, por exemplo, estudantes colarem na parede de seus quartos post it com conteúdo que sentem maior dificuldade e insegurança e ao relê-los você fará uma revisão. Entretanto, é importante avaliar qual estratégia ou melhor, quais estratégias de estudo são mais eficientes para o seu processo de aprendizagem.
A pesquisadora brasileira em Ciência da Aprendizagem, Roberta Ekuni, pontua como é importante fazer revisões diariamente e destaca o papel crucial da memória no processo de aprendizagem. Ela exemplifica como, para cada estágio da memória (aquisição, codificação, armazenamento, recuperação e reconsolidação da informação) existem estratégias de estudo próprias.
Fazer revisões não significa despender um tempo enorme de sua rotina de estudo, mas sim, usar estratégias que de alguma forma recuperam os conteúdos aprendidos, fortalecendo assim o traço cognitivo da aprendizagem. É possível fazer revisões pontuais, quando por exemplo você tenta resolver novamente um exercício que você errou, quando faz a correção do simulado e analisa seu erro, retornando ao conteúdo, quando faz uma prática de lembrar tentando recuperar de memória quais foram os pontos mais importantes na aula que assistiu ou mesmo quando cria flashcards com pontos do conteúdo que sente insegurança e prática essa estratégia
A pesquisadora ainda traz a ideia da dificuldade desejável, ou seja, a frequência com que deve revisar um conteúdo precisa ser quando algumas lacunas do conteúdo começam a aparecer, para assim existir uma dificuldade desejável e um esforço cognitivo para recuperar a informação. Ou seja, não existe receita pronta! O estudante precisa ter clareza do desenvolvimento que tem conseguido obter com seu estudo para escolher quais são as melhores estratégias para aquele momento.